quarta-feira, 23 de julho de 2014


Eu só queria que você falasse. Não é pedir demais, é? Falar é tão simples. E acho que de tão simples, você desaprendeu como se faz. Bom, é mais ou menos assim: você vem, inspira muito ar, expira um terço dele, levanta a cabeça, estufa o peito, olha pra mim e fala. Só… fala. Te ver desenhando com os dedos atrás da minha nuca é gostoso, mas não facilita as coisas. Do que adianta você me encher de beijos e depois sair pela porta em silêncio? Eu preciso ouvir a sua voz. Falando, gritando, rasgando os ventos contrários, tanto faz. Eu só preciso ouvir, mesmo que não mude nada. Fala alguma coisa que quebre essa Era Glacial entre nós dois, por favor. Você apenas sorri enquanto eu tagarelo silábas intermináveis sobre toda a minha vida, mesmo ela não sendo tão interessante assim. O problema é que eu não me contento em saber apenas como foi o seu dia ou o seu fim de semana na casa dos seus amigos. Eu quero saber também como foi o seu verão passado, o ultimo natal na casa dos seus pais, quando você ganhou o primeiro bichinho de estimação, onde aprendeu a tocar guitarra e todas essas coisas memoráveis guardadas aí dentro. Isso tudo sem parecer uma policial investigativa louca, é claro. Eu só queria, na verdade, conhecer um pouco mais o teu passado pra me estabilizar no teu presente. Mas você não fala. Nada. Nem uma palavrinha. E eu sou obrigada a tentar decifrar os mil códigos que se escondem por detrás do seu “bem que a gente poderia se ver de novo, ein?”. O meu medo é não saber o que vem depois da interrogação. E você é o meu maior questionamento sem resposta alguma. Acho que, exatamente por isso, eu sempre acabo aceitando as suas suposições e silêncios. Eu volto, mesmo que você não fale. E eu sempre volto justamente pra te ouvir falar.

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